A especialidade em Saúde Pública – apesar da Gripe A – continua a ser uma especialidade non grata para os internos de medicina.
De acordo com a edição de hoje, dia 21 de Dezembro de 2009, do Diário de Notícias, mais jovens ignoram certas especialidades, como saúde pública, porque “não dá fama nem facturação”.
De entre todas as especialidades a concurso, e de acordo com os dados que apurámos, ficaram por preencher 21 vagas nos hospitais e centros de saúde, sendo que destas 7 reportam-se a vagas na especialidade em Saúde Pública. No concurso, que abriu dia 15 de Novembro e ficou concluído a 3 de Dezembro, estavam 1026 vagas.
Mário Durval (Presidente da Assembleia Geral da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública) diz duvidar que daqueles que entraram para a especialidade de Saúde Pública, cheguem ao fim mais do que dois ou três. “É uma especialidade que não dá fama nem facturação a ninguém e actualmente a perspectiva na saúde está muito centrada à volta da doença e dos negócios da doença, mais do que na prevenção”, diz ele.
Nós, em relação a esta justificação, temos as nossas dúvidas. A verdade é que nos últimos tempos não se tem falado de outra coisa senão em Saúde Pública, a propósito da Gripe A (haja fama!). O que nos parece é que se estará a perder uma excelente oportunidade para enfatizar a importância que estes profissionais têm em situações como a que temos atravessado. Em relação à facturação, prefiro nem falar muito… pensemos apenas nos desempenhos “acessórios” (in)compatíveis com a Saúde Pública que muitos têm perpetuado.
Concordo, contudo, quando Mário Durval diz que a especialidade de Saúde Pública tem sido muito mal tratada no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que afasta os estudantes. No futuro diz não ter dúvidas de que a falta de especialistas vai ter impacto na saúde dos portugueses. É certo!… Além dos maus tratos dados pelo SNS, parece-nos que os próprios curricula dos cursos de medicina em nada favorecem a Saúde Pública. Quando nos cuidados de saúde primários recebiamos estudantes do ano comum de medicina, raros (diria que nenhuns) eram aqueles que tinham a real percepção dos desempenhos associados à Saúde Pública. Diria que não se pode gostar do que se desconhece.
Das 1026 vagas, 179 eram “vagas preferenciais”, ou seja, vagas às quais o Estado dá preferência tendo em conta a carência de profissionais. Para as preencher são dados incentivos aos internos que assim, além do vencimento base, ainda recebem uma bolsa mensal de 750 euros. Desta 179 vagas, onze ficaram por preencher sendo que quatro eram de Saúde Pública.
Vagas por preencher em Saúde Pública:
- Alentejo Litoral, Centro de Saúde de Santiago do Cacém (2 vagas);
- Alto de Trás-os-Montes, Centro de Saúde de Macedo Cavaleiros;
- Dão Lafões, Centro de saúde de São Pedro do Sul;
- Pinhal Interior Norte I,- Centro de Saúde de Vila Nova de Poiares;
- R.A. Madeira; e
- Unidade Local de Saúde do Norte- Alentejo, Centro de Saúde de Portalegre.
Nota: imagem recolhida no blogue Arrastão.