A confirmarem-se as garantias dadas pelo Ministério da Educação aos estudantes, ou seja, a substituição do director da Escola Superior de Tecnologia da Saúde, Gomes da Silva, a acção dos alunos teve o efeito desejado. Mas nem por isso os grevistas mostravam sinais de grande contentamento.
“A assessora da sr. ministra disse-nos que já tinham novo director para a escola, mas, na prática, continuamos na mesma, enquanto não virmos a decisão no papel. Para já, só serve para irmos comer”, considerou Rafael Bernardo, um dos estudantes que se ofereceu para participar nesta iniciativa. “A falta de respeito e de desprezo com que temos sido tratados não permite ter grande confiança. Mas pode ser que desta vez se passe das palavras à prática”, acrescentou.
Para os estudantes, a actual direcção da escola implantou um modelo de gestão que levou à degradação dos 10 cursos ali leccionados. Mas há mais: uma grande percentagem de alunos não têm aulas, nem sequer horários: “Já perdemos um semestre, esperamos não perder o ano inteiro”.
Os alunos acusam ainda a direcção de ter afastado cerca de 90 por cento do corpo docente.
Gomes da Silva contesta as acusações dos estudantes, garantindo que está a aplicar o esquema de ensino já vigente quando tomou posse no cargo, em 1995.
Seja como for, desde há muito que a Escola Superior de Tecnologia da Saúde vive nalguma agitação, com os estudantes a protestar contra a direcção da escola. Um processo que teve terça-feira a sua expressão maior, quando um grupo de 12 voluntários “em representação de todos os alunos”, decidiu fazer greve de fome, em frente ao Ministério da Saúde.
O relato da experiência, tão dura quanto inesquecível, aqui fica, pela voz de Rafael Bernardo.
“Não foi fácil, sobretudo durante a noite. Fazia frio, estava chuva e o barulho era grande. Praticamente não conseguimos dormir. A única coisa que ingerimos foi água, isostar e pacotes de açúcar”, disse. “É uma luta contra nós mesmos. São momentos de tensão, de nervosismo. Enquanto falávamos uns com os outros, o tempo ainda se passava mais ou menos. O pior era quando não falávamos, quando se fazia silêncio. E foram muitos os momentos de silêncio”, acrescentou.
“Para já, as coisas terminam aqui. Estamos cansados, tontos e agitados com tudo isto. Esperemos que tenha valido a pena”, concluiu.
No próximo dia 6 de Janeiro, as aulas reabrem. O desejo dos estudantes é apenas um: “Que um novo director tome posse”.
Paulo Santos
Ao cabo de 32 horas sem comer, os estudantes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde [de Lisboa] tinham, naturalmente, um ar cansado (Foto Vítor Rios)