Ilha Terceira: diário de bordo

Há uma semana atrás, por esta hora, estava a sobrevoar o Oceano Atlântico, rumo à Ilha Terceira (Açores). Foi naquela ilha que se realizou o Congresso Internacional das Ciências e Tecnologias da Saúde, onde tive a oportunidade de apresentar alguns dos resultados da aplicação de um questionário para a determinação do nível de Satisfação Profissional dos Técnicos de Saúde Ambiental a desempenhar funções na Região Autónoma dos Açores.

Foi também por aquela ocasião, na sessão de encerramento do evento, que os colegas que haviam frequentado o 4.º Ano do Curso de Licenciatura em Saúde Ambiental receberam os seus diplomas. A todos eles – aos que participaram no estudo e àqueles que receberam os diplomas – deixo aqui os meus mais sinceros agradecimentos e parabéns.

Na fotografia (recolhida no sítio da ESTeSL), temos da esquerda para a direita, Lurdes Leal, Augusto Gonçalves, Filomena Lopes, Guilhermina Ferreira, Hermínia dos Santos, João Lima, Maria do Céu Arruda, João Almada, João Mendonça, Manuel Garcia, Nuno Barroso, Sandra Vieira e Paula Albuquerque (Coordenadora do Curso de Licenciatura em Saúde Ambiental da ESTeSL).

Ao contrário do que já havia acontecido em ocasiões anteriores, desta vez fiz-me acompanhar por alguns dos Manteigas cá de casa e foi com eles que fiquei a conhecer melhor a Ilha Terceira. Julgo até que nada, ou muito pouco, terá ficado por ver.

Depois de termos “assentado arraiais” no Hotel do Caracol, em Angra do Heroísmo, e à margem daquela que foi a minha participação no Congresso Internacional das Ciências e Tecnologias da Saúde, passámos pela Casa do Peixe para nos deliciarmos com uma bela Telha de Peixe. À noite e depois de termos subido à Serra do Cume, que já vos havia mostrado em Fevereiro (O Saúde Ambiental… na Terceira) e de termos visitado as Furnas de Enxofre, fomos jantar à Casa de Pasto de Posto Santo. Ali o cliente não escolhe: senta-se e pronto! Enquanto a comida ia chegando, do outro lado da mesa alguém dizia: – Meus Deus!… Isto é tudo para nós? Lá se vai a alimentação equilibrada…

Terei perdido a conta mas julgo que na mesa coleccionámos pratos de queijo, de entrecosto, de batata-doce frita, de linguiça, de morcela, de febras, de feijão, de ovos estrelados… enfim, alguma coisa me terá escapado. Haaaaaaaa… pois então… faltava referir o néctar com origem em Biscoitos.

Já no dia seguinte, e depois de uma passagem fugaz pelo Monte Brasil, com uma vista deslumbrante sobre Angra do Heroísmo e a zona sul da ilha (fotografia), o jantar foi na Quinta do Martelo. Ali, antes mesmo de nos terem servido a Alcatra de Carne (refeição pesada para um jantar), os nossos sentidos já devoravam sensações. A entrada no restaurante faz-se por uma mercearia que nos transporta para muitos anos atrás: tantos anos que alguns de vós dificilmente reconhecerão algumas das relíquias que por ali se podem encontrar (fotografia). Além do serviço ser excepcional e a simpatia de quem nos recebeu ser rara nos dias que correm, todo o jantar foi acompanhado por música tradicional açoriana que saía de um rádio antigo colocado num canto da sala. Aliás, naquela sala tudo era antigo, tal como na mercearia. Para nós, apenas os paladares eram novos. No fim da refeição, como é apanágio de um qualquer comensal naquele sítio, deixámos o nosso testemunho no livro de visitas.

No outro dia, já em Maio, quase toda a ilha se encontrava pejada com os “Maios” (fotografia), essas figuras que surgem, quase misteriosamente, com o amanhecer do dia 1 de Maio de todos os anos, às portas, janelas, balcões ou outros lugares nos arredores das casas, mantendo-se impávidas e serenas, ao longo de um dia, à curiosidade dos olhares de quem passa (in Os Maios da Ilha Terceira de Helena Ormonde).

Durante a tarde do dia 1 de Maio, muito do nosso tempo foi passado alguns metros abaixo do solo. Descemos ao Algar do Carvão, na Caldeira de Guilherme Moniz, um vulcão adormecido onde se pode descer até cerca de 100 metros de profundidade (fotografia). O André perguntava insistentemente: – estamos mesmo dentro dum vulcão? Daí seguimos para a Gruta de Natal que é uma cavidade vulcânica localizada na freguesia dos Altares e que  resultou da formação de um tubo lávico. Esta gruta é bastante extensa com ramificações nos diferentes túneis formados pelas escorrências de lavas muito fluidas que saiam em diferentes direcções. Aqui, por motivos de segurança, usámos capacetes de protecção e em algumas das zonas do tubo lávico tivemos que andar quase de quatro (não aconselho a visita a quem sofra de claustrofobia).

Foi também nesse dia que São Mateus da Calheta nos recebeu. Foi naquela freguesia, na Canada do Capitão-Mor, que assistimos à primeira tourada à corda do ano (fotografia). Agradeço entretanto à simpática senhora que nos acolheu no seu quintal para que pudessemos assistir à festa em segurança. Disse-nos:  – olhe, sejam bem-vindos e acomodem-se por aí. Na manhã desse dia, alguns colegas açorianios já nos haviam falado do quinto touro e que agora confirmo: ele existe!

O dia seguinte, o último em que estariamos por terras da Terceira, aproveitámos para visitar o que ainda não conheciamos.

Fomos até Biscoitos, seguindo pelo lado oeste da ilha. É em Biscoitos que a lava assume um papel preponderante, tanto pelo paladar que confere ao vinho daquela região como aos cenários alienigenas que proporciona (fotografia). Depois do almoço no Lava Preta, subimos à Serra de Santa Bárbara que, por estar coberta de núvens, não nos permitiu tirar partido da vista maravilhosa que dizem ter-se dali. Ainda assim, na descida, a vista que se tem sobre as Doze Ribeiras é de cortar a respiração (fotografia).

Já me tinham referido que naquela ilha haviam duas vacas por cada habitante. Eu confesso que não as contei mas posso afiançar-vos que os bovinos são realmente muitos e que podem ser encontrados nos sítios mais estranhos. Não raras vezes, ao longo dos muitos quilómetros que fiz naquela ilha, tive que dar prioridade àqueles animais. O André, cada vez que isso acontecia, dava pinotes de contentamento no banco de trás do automóvel. – Pai… pai… olha ali, disse ele de repente. Parei o carro e não resisti. Click!… 🙂

Entretanto havia chegado a hora de regressar a casa. Dali a poucas horas o avião teria que descolar e nós seriamos mais uns dos seus passageiros que levaria a Terceira e os Açores como recordação. Prometo voltar àquela ilha e as restantes do arquipélago dos Açores estão agora na minha lista de prioridades para viagens futuras.

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