Hoje, quase três anos depois de termos deixado de exercer a profissão de Técnico de Saúde Ambiental, aconteceu-nos aquilo que nunca nos havia acontecido em mais de dez anos de exercício profissional, onde a vigilância e a fiscalização eram frequentes.
No decurso das compras semanais, aquelas que normalmente fazemos numa grande superfície comercial, chegados à zona dos lacticínios, algo nos pareceu anormal. A temperatura ambiente estava estranhamente “normal”. Ao olharmos para o mural percebemos porquê. Estava tudo desligado! Mais à frente notámos que alguns dos topos também se encontravam na mesma situação. Os clientes continuavam a retirar produtos, completamente indiferentes à situação, sem se aperceberem que aquilo que deveria estar à temperatura de refrigeração estaria à temperatura ambiente.
Corremos até ao atendimento ao cliente e relatámos a situação. Perguntaram-nos se queríamos falar com o responsável pela loja. Dissemos não ser necessário desde que fosse reposta a normalidade. Voltámos à loja e acabámos as compras por ali. O mural dos lacticínios entretanto voltou a ter luz e os displays deram-nos, finalmente, a temperatura a que os produtos se encontravam. Percebemos então que os produtos estavam a 22,2ºC.
Saímos, convictos de que algo haveria de ser feito. Já no carro decidimos voltar atrás e confirmar! O mural dos lacticínios continuava ligado e a temperatura já estava nos 11ºC. No entanto, os topos continuavam por ligar. Pedimos então para falar com o responsável pela loja. Queríamos perceber o que se estava a passar e explicaram-nos que estavam a sujeitar a rede eléctrica a algumas intervenções e que as temperaturas dos displays não eram reais. “Usamos uns aparelhos para de hora-a-hora vermos a temperatura e nem tocamos nos produtos”, disseram-nos. Ao falarmos-lhes em termografia perceberam finalmente sermos entendidos na matéria.
Com o responsável percorremos então alguns dos murais e quem nos acompanhou acabou por confirmar connosco as nossas piores suspeitas. As temperaturas registadas, e tendo em conta os limites críticos definidos pela empresa, obrigavam à rejeições de todos os produtos.
Agradeceram-nos e afiançaram-nos ir tratar da situação, dando indicações para que todos os produtos da rede de frio fossem de imediato retirados. Enquanto íamos abandonando a loja e explicando ao nosso descendente mais velho o que ali se tinha passado, ouvimos pelo sistema de som a mensagem que entretanto ecoava por toda a loja… todos os funcionários disponíveis deverão dirigir-se à zona central da secção de congelados!…
A verdade é que se houvesse um inspector em cada português, tudo seria mais saudável e seguro.
Naquilo que a nós diz respeito, iremos continuar a olhar para as temperaturas dos equipamentos de conservação de alimentos e para as datas de validade dos produtos alimentares. E vocês??