Doutoramento: provas dadas em Saúde Ambiental

Aqueles que nos vão acompanhando pelo Facebook (aqui ou aqui) certamente que se recordarão de termos feito referência, no passado dia 12 de Outubro, ao doutoramento de uma colega de Saúde Ambiental. Por aquela ocasião dissemos: – em breve, e na primeira pessoa, daremos mais informações. É hoje e será também hoje que ficarão a saber de quem falamos.

Eu confesso que me sinto privilegiado por ter acompanhado de perto a parte final (últimos dois anos) do muito esforço desenvolvido por esta colega que, à semelhança de outras, deverá ser vista como um exemplo a seguir.

Que este discurso na primeira pessoa vos sirva de inspiração para que almejem mais do que aquilo que vos é “oferecido” de forma gratuita. E uma coisa é certa: – nada se consegue sem esforço e sacrifício.

Consegui!

No dia 11 de Outubro de 2010, ao fim de 2 horas e meia de “provas” terminei o período da minha vida em que vivi intensamente o desafio a que me propus e que iniciei em Março de 2006.

Fui para o laboratório de Micologia do INSA, com a ideia que queria estudar a exposição a fungos dos trabalhadores dos ginásios com piscina, mas sem saber o que era necessário para isso. Apercebi-me das minhas limitações de conhecimento em relação às práticas laboratoriais (dando origem a algumas “piadas privadas” no laboratório) e também em relação à Micologia… Felizmente, os colegas que me receberam foram compreensivos, pacientes e excelentes professores. Foi um período em que “devorei” todos os artigos científicos a que tinha acesso para compensar o meu parco conhecimento na área da Micologia.

O trabalho de campo foi bastante compensador e enriquecedor, pois trabalhei com profissionais com diferentes formações e em formação e consegui partilhar experiências e vivências com outros Técnicos de Saúde Ambiental, Técnicos de Análises Clínicas e Saúde Pública, Técnicos de Anatomia Patológica, Citológica e Tanatológica e Biólogos.

Confesso que o mais complicado foi conseguir estar tão envolvida no projecto e, ainda, conseguir assegurar e, por vezes, promover os meus compromissos como docente na ESTeSL… não foram períodos fáceis.

A possibilidade de estar envolvida num projecto deste cariz possibilitou-me viajar para apresentar os meus resultados e discuti-los com a comunidade científica internacional, permitindo sedimentar a minha capacidade de arguir e crescer com o projecto.

Durante os 4 anos perdi alguns momentos de qualidade com a minha família mas creio ter sido eu a que mais notei as minhas ausências.

Encorajo todos os que tenham a possibilidade de enveredar pela investigação e de se entregarem a um projecto de “corpo e alma”. Creio que, enquanto professora, o doutoramento é uma etapa essencial ao nosso crescimento profissional e sou da opinião que “quem não investiga, não tem nada para ensinar” como alguém, recentemente, verbalizou… palavras sábias…

Durante este processo, além da minha família, os meus amigos no laboratório e na ESTeSL foram essenciais em todos os momentos vividos de alegria, frustração, motivação, desespero, e, por último, de realização pessoal… Muito obrigado a todos.

Quis o acaso que fosse a primeira licenciada em Saúde Ambiental a obter o doutoramento… espero que seja a primeira de muitos…

Carla Viegas[,PhD]

Quis o acaso que um dia a(s) Viegas se cruzasse no meu caminho. Colega(s), parabéns e muito obrigado!

A Saúde Ambiental no IFEH 11th Congress on Environmental Health

A propósito da rubrica “Onde Estamos?“, lançámos o desafio ao colega Rogério Nunes para que nos contasse como haviam corrido as coisas por Vancouver (ver Onde Estamos?… Estamos no IFEH 11th Congress on Environmental Health em Vancouver). Depois de termos estado em San Diego (ver A Saúde Ambiental no Air Pollution and Health: Bridging the gap) e em Syracuse (ver Estamos no Healthy BuildingsDe regresso a Portugal), deixamos aqui o relato da passagem deste nosso colega por Vancouver, enfatizando-se, mais uma vez, a importância que tem a nossa participação neste tipo de eventos.

Estamos em Vancouver, Colômbia Britânica, Reino do Canadá.

Foi uma longa viagem. Duas horas e meia até Amesterdão, seis horas de escala no aeroporto de Schiphol e nove horas até ao destino com um fuso horário de menos sete horas.

O que motivou este jornada foi a realização do bianual Congresso Mundial de Saúde Ambiental da Federação Internacional de Saúde Ambiental onde Portugal está representado, deste 2009, pela Sociedade Portuguesa de Saúde Ambiental.

Por sermos um membro recente, foi pela primeira vez desfraldada uma novíssima bandeira da República Portuguesa e colocada ao lado das restantes trinta e oito já viajadas pelos quatro cantos do mundo.

Esta participação no IFEH2010 teve como objectivo expor uma comunicação intitulada “Intervenção Comunitária no Ensino Superior de Saúde Ambiental”, onde foi relatado o modo de funcionamento das unidades curriculares Projecto I, II e III do Curso de Saúde Ambiental do IPBeja e apresentado o trabalho de alunos e professores.

A cidade de Vancouver é fantástica e o evento estava luxuosamente organizado. Tão importante como aprendermos com as experiências dos colegas nas sessões de trabalho é a oportunidade de conhecer os confrades de Saúde Ambiental.

Portugal é um País bastante conhecido e acarinhado por todos. Fica a sensação que os únicos menos agradados com Portugal são os portugueses!

Foi possível confraternizar e estabelecer laços com colegas da Austrália, Reino Unido, África do Sul, USA, Malásia, Dinamarca, Holanda, Uganda…. Em contraste com o ainda incipiente reconhecimento social no nosso País da profissão de técnico de saúde ambiental, foi fácil perceber que em muitos países esta é uma actividade de elevado estatuto profissional e social.

Para aqueles que estão a pensar nas dificuldades orçamentais, deve ser dito que esta aventura foi possível graças a um financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Esta não é a única fundação a disponibilizar este tipo de apoios e o primeiro passo é candidatarem-se…

Como uma imagem vale mais que mil palavras fica o endereço do álbum do congresso para que possam sentir o ambiente vivido.

O próximo congresso mundial será em 2012 na cidade de Vilnius, capital da Lituânia onde faço votos que a delegação portuguesa não volte a ser constituída por um único elemento.

Em 2012, todos a Vilnius!

Os ginásios, as micoses e a Saúde Ambiental

No “intervalo” da edição de ontem do semanário SOL podíamos ler um artigo que tinha por título “Toalha no tapete”. O artigo referia que “limpar o suor com uma toalha limpa pode impedir infecções de pele transmitidas nos ginásios”.

João Brandão, especialista em micologia clínica do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge realça que “nos ginásios, há risco de contágio de infecções da pele por estafilococos, cândidas ou tinhas. E os contágios mais típicos nestes locais são, talvez, o pé de atleta e as tinhas”.

No final do artigo, “Carla Viegas [Técnica de Saúde Ambiental e professora da Área Científica de Saúde Ambiental da  Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa], a terminar o doutoramento em saúde pública, estuda há quatro anos a exposição profissional a fungos dos trabalhadores dos ginásios e piscinas e concluiu que há uma maior prevalência de micose nestes profissionais do que na população em geral“.

Técnicos de Saúde Ambiental como Técnicos Superiores na ACT

Irá decorrer hoje, dia 4 de Setembro pelas 14h30m, o procedimento concursal comum para o recrutamento de 25 postos de trabalho na categoria de Técnico Superior na Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) e cujo concurso já aqui havíamos publicitado. Os candidatos admitidos para prova de conhecimentos devem comparecer, 30 minutos antes da hora, no Instituto Superior de Ciência do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa.

Na lista de admitidos (e de excluídos) poderemos encontrar alguns colegas, Técnicos de Saúde Ambiental, pelo que não será estranho que caras conhecidas se venham a cruzar esta tarde no ISCTE.

Boa sorte a todos!

Concurso de ingresso para Técnico de Saúde Ambiental (Serra d’Aire)

Foi publicado hoje o Aviso n.º 15707/2010, do Ministério da Saúde – Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, I. P., que torna público o concurso de ingresso na categoria de um técnico de 2.ª classe de saúde ambiental, da carreira técnica de diagnóstico e terapêutica, na modalidade de relação jurídica de emprego público, titulada por contrato de trabalho em funções públicas por tempo indeterminado, para exercer funções na ARS de Lisboa e Vale do Tejo, I. P./ACES do Médio Tejo I – Serra d’Aire.

Mais uma machadada na carreira de Saúde Pública

Foi ontem que a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) disponibilizou no seu sítio um comunicado de título “Mais uma machadada na carreira de Saúde Pública“.

Que a Saúde Pública andava a ser alvo de machadadas já nós haviamos notado e tentado fazer ver. Até aqui nada de novo.

O novo é que finalmente a FNAM tomou uma posição naquilo que diz respeito à Delegação de Competências, assumindo como argumentação algo que os Técnicos de Saúde Ambiental há muito andavam a chamar a atenção. Para já, deixamos um comentário: – Parece-nos que a FNAM tem andado “distraída”! Deixamos apenas alguns exemplos do que já foi dito aqui em relação a este assunto: Nós, eles e a delegação de competências; Autoridades de Saúde e suas competências; Poderes de Autoridade de Saúde na ausência de Médico de Saúde Pública; A delegação de competências na versão legal.

Entretanto foi a 14 de Maio de 2010 que o Sindicato das Ciências e Tecnologias da Saúde chamou a atenção para o problema da legalidade das delegações de competências atribuidas com base no art.º 9.º do Decreto-Lei n.º 82/2009, de 2 de Abril (ver documento). Posteriormente, já a 1 de Julho de 2010, a Direcção Geral de Saúde (DGS) fez sair a Circular Informativa nº 27/ASN que tinha como assunto esta mesma questão, a delegação de competências, desta feita aplicável aos Médicos de Saúde Pública e na qual se conclui que “(…) poderão os Delegados de Saúde delegar a execução de actos materiais nos médicos colocados nas Unidades de Saúde Públicas”.

Voltamos ao documento inicial, “Mais uma machadada na carreira de Saúde Pública“, e elencamos aqui aquelas que são, a nosso entender algumas das ideias fulcrais apresentadas:

  • A delegação de competências, sendo possível, pressupõe o cumprimento de requisitos definidos legalmente – desde logo, a imposição de que essa delegação de competências seja previamente publicada em Diário da República; e
  • A “interpretação” dada pela DGS não é mais do que (mais) uma inadmissível agressão à dignidade profissional dos médicos de Saúde Pública!

Dão um exemplo… “tendo participado numa vistoria com a Câmara Municipal, não poderia assinar o respectivo Auto, que teria de ser levado ao Delegado de Saúde… E, se dessa vistoria decorresse a necessidade de imediata suspensão da actividade do estabelecimento, por risco iminente para a Saúde Pública, teria de chamar o seu colega “polícia”, para ele assumir tal acto!…”

E referem ainda que “com agressões destas à dignidade profissional dos médicos de Saúde Pública – para além das substanciais diferenças de massa salarial comparada com os colegas das outras carreiras – não pode o Governo admirar-se do escasso número de jovens médicos que optam por esta carreira (quiçá não demore muitos anos para que fique totalmente vazia e a extinguir)”.

Posto isto chegamos nós a algumas conclusões. A saber, e sem personalizar para que não corramos riscos desnecessários:

  • Alguém anda a ler o que aqui escrevemos mas fá-lo com meses (ou anos) de atraso;
  • Aparentemente alguém se preocupa com os Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica, porquanto acompanha (desta vez em tempo útil) algumas das preocupações dos sindicatos, naquilo que diz respeito a esta matéria associada aos Técnicos de Saúde Ambiental;
  • Para esta mesma questão há dois pesos e duas medidas. Refiro-me à delegação de competências de que os Técnicos de Saúde Ambiental têm sido objecto e que alguns “delegantes” sempre tem negligenciado ou até potenciado.

Posto isto, das duas uma:  – Ou comem todos, ou não come ninguém!…

Eu, Técnico de Saúde Ambiental, recuso-me a executar actos materiais que me tenham sido delegados porque:

  1. Essa delegação não está devidamente consubstanciada com publicação em Diário da República; e porque
  2. Essa delegação (e outras) é uma inadmissível agressão à dignidade profissional dos Técnicos de Saúde Ambiental.

Digo que é uma agressão porque é só com ela que os Técnicos de Saúde Ambiental podem formalmente desempenhar determinadas funções e executar determinados actos quando já têm competências reconhecidas para tal.

Digo que é uma agressão porque com ela os Técnicos de Saúde Ambiental acabam por desempenhar determinadas funções e executar determinados actos que mesmo tendo competência técnica para o fazer são, por força da lei, competências dos Médicos de Saúde Pública nomeados Autoridades de Saúde. Faço notar que estes profissionais descontam mais de impostos do que aquilo que os Técnicos de Saúde Ambiental auferem de vencimento líquido num mês. Os Técnicos de Saúde Ambiental fazem o seu trabalho e o dos outros não recebendo mais por isso e os outros não fazendo o que lhes compete não recebem menos. Deviam!

Hoje estou mais calmo, confesso, mas haja paciência!! Se eu mandasse, saberia como resolver o assunto. Mas (felizmente) não mando 🙂

Alguém tem opinião formada em relação a este assunto?