A Lei é dura, mas é a Lei

Foi na edição de dia 24 de Janeiro de 2008, do Diário de Notícias (DN), que Maria José Nogueira Pinto, com o seu olhar crítico de jurista, desancou (foi apenas mais um a fazê-lo) na Lei do Tabaco (Lei n.º 37/2007 de 14 de Agosto) e nos rostos que a representam.
Apresento-vos o seu artigo de opinião “Dura Lex Sed Lex“. A Lei é dura, mas é a Lei.

«Na nossa tradição portuguesa é conhecida a febre legislativa que tem conduzido a leis mal pensadas e pior redigidas. Ora uma má lei é pior que lei nenhuma e uma lei repleta de contradições, omissões e lacunas vai perdendo os fundamentos e os objectivos que a justificaram, de excepção em excepção, transformando-se num mero articulado que todos querem furar. Foi o que aconteceu com a lei do tabaco que, com menos de um mês de vida, já está condenada pelas suas contradições, pelas dificuldades de interpretação que vão abrindo a porta a excepções duvidosas, pelo sentimento generalizado de que se está a limitar a esfera da liberdade privada sem que fique claro qual é o “interesse público” e em nome de que “bem comum”.

A primeira facada nestes princípios veio do lado dos casinos, o facto agravado pela eventual excepção ser personificada pelo próprio senhor da ASAE, (esse novo justiceiro na pior versão nacional) ao saudar, no casino, o novo ano e a nova lei com um charuto (ou seria um cigarro?) na boca. Uma infelicidade… seguiram-se as discotecas que, legitimamente, colocaram dúvidas sobre como se encaixavam no articulado e assim começou uma dança interpretativa por entre o emaranhado dos artigos 4.º e 5.º e respectivas alíneas. E aqui surge a primeira surpresa: o intérprete desta lei é o director-geral da Saúde em pessoa e estão mesmo em curso interpretações conjuntas com a ASAE e o contributo dos interessados, como é o caso dos casinos.

Confesso, eu modesta licenciada em Direito, não conhecer esta forma de interpretação “extensiva”. Mas as surpresas não ficam por aqui. Lendo a entrevista dada pelo director-geral da Saúde ao DN fico a saber coisas extraordinárias, tais como os casinos serem do Estado e por isso terem um regime especial; que de acordo com a
“verdade científica” não existe nenhum mecanismo de extracção do ar que permita satisfazer os requisitos impostos pela lei; que quem vai certificar a qualidade do ar é o técnico que coloca o equipamento; que os inspectores que fiscalizam o cumprimento da lei não têm capacidade de verificar os parâmetros do ar interior.

Para tudo isto, o director-geral da Saúde encontra uma explicação. Segundo ele próprio afirma a lei é clara nos seus objectivos mas de leitura reconhecidamente difícil. Talvez ele não saiba que, neste ponto, os objectivos esfumam-se, incluindo o da saúde pública, e só ficam perguntas, tais como: mesmo que os casinos fossem do Estado (que não são) deviam ter um regime próprio?

Então não são do Estado os serviços públicos onde a lei proíbe fumar? E se não existe sobre a face da terra mecanismo algum de extracção do ar com os requisitos que a lei exige, porque é que os mesmos estão previstos? Como uma remota possibilidade? Se a qualidade do ar é um dos aspectos mais relevantes pode a mesma ser certificada pelo técnico que coloca o equipamento? Mas não é esse técnico parte interessada e por isso não isenta? E se os inspectores que fiscalizam o cumprimento da lei não têm capacidade para verificar os parâmetros do ar interior, o que vão eles lá fazer? E qual é a diferença de fumar, à noite, num casino, numa discoteca ou num restaurante? É porque no restaurante se manipulam alimentos? Mas o fumo faz mal aos alimentos ou aos comensais?

Note-se que esta podia e devia ser uma boa lei. Todos percebem que fumar faz mal e ninguém, verdadeiramente, se insurge contra medidas que desencorajem práticas que lesam a saúde própria e de terceiros. Mas não sendo crime fumar, sendo livre a venda do tabaco da qual o Estado, aliás, arrecada grossas receitas e registando Portugal uma elevada taxa de alcoolismo e toxicodependência, a ferocidade com que o legislador saltou sobre os fumadores obrigava-o a fundamentar esta medida de em princípios transparentes de razoabilidade e equidade.

É tudo isto que vai retirando legitimidade a essa lei “clara nos objectivos, mas de difícil leitura”, para citar as palavras de Francisco George (director-geral da Saúde). Porque não é só a leitura que é difícil, a mente do legislador também está confusa e a equidade comprometida. Esta lei não é dura. É uma anedota.»

Cortesia da colega Sílvia Silva

Nós por cá, não temos tido mãos a medir. Quase todos os dias somos confrontados com proprietários de estabelecimentos de restauração e de bebidas que nos pedem ajuda na interpretação dum diploma legal, que de facto achamos ser necessário, mas cujo conteúdo é claramente dúbio e passível de interpretações várias e a belo gosto do leitor.
Hoje, um desses indivíduos – cuja actividade principal, vim a saber, é advocacia – dizia que até haver jurisprudência ninguém se orienta. Eu dúvido que venha a haver jurisprudência nesta matéria, com este diploma legal, tal qual ele está. Acredito, ou quero acreditar, que irá ser sujeito a alterações. Espero que para breve.
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Nota: parêntesis meus.

O que as crianças vêem, as crianças fazem

Deixo-vos aqui um vídeo de uma campanha promovida pela The National Association for Prevention of Child Abuse and Neglect (NAPCAN) através da Child Friendly Australia (iniciativa de mudança social).

De facto, em termos de educação, os filhos são o reflexo dos pais. Para aqueles que ainda vão a tempo e que sejam merecedores desta chamada de atenção, relembro que o que as crianças vêem, as crianças fazem.

Cozinhas quase de luxo!!!… A reportagem

A propósito das cozinhas quase de luxo, a que já aqui e aqui tinha feito referência, dou-vos a conhecer a Reportagem Especial “Comida de Estrela”, que deu origem àqueles dois posts.
Sugiro-vos que a vejam com muita atenção e tentem identificar as más práticas que se vão verificando.

Se não conseguir visualizar, clique aqui.

Ordem dos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica: reunião plenária

Recebemos da Organização Portuguesa de Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica Pró-Ordem via correio electrónico e já foi distribuido pela colega Sílvia Silva, Técnica de Saúde Ambiental, via Grupo de Saúde Ambiental, uma cópia do Diário da Assembleia da República, o qual transcreve a discussão realizada no Plenário relativa à apresentação da petição tendente à criação da Ordem Profissional.
A Reunião Plenária teve a intervenção dos deputados Maria José Gamboa (PS); João Semedo (BE); Pedro Quartin Graça (PSD); Bernardino Soares (PCP); e Pedro Mota Soares (CDS-PP). As reacções às intervenções dos representantes dos respectivos grupos parlamentares repartiram-se entre os aplausos e os “muito bem!”
De uma forma geral, todos os grupos parlamentares relevaram a fundamentação apresentada para a criação da Ordem Profissional, sendo que o PSD e o CDS-PP ainda “franziram o nariz”, tendo apresentando, com sentido crítico, algumas das competências e “dependências” das futuras ordens profissionais, de acordo com o projecto de lei n.º 384/X. Pedro Mota Soares, a determinada altura da sua intervenção diz: “parece-me que a primeira das questões que devia ser colocada a estes peticionantes é a de saber se, face a este novo quadro legal, mantêm esta pretensão.
Para que possam responder a este “desafio”, em consciência, sugiro-vos a leitura do projecto de lei relativo ao regime das associações públicas profissionais e cuja hiperligação podem seguir acima.

Ana Escoval, a demissão e, as unhas e os anéis do Sr. Ministro

Ana Escoval, que conhecemos pessoalmente, além de muitas outras coisas é também a directora da revista “Tecnologias da Saúde. Gestão, Ciência e Inovação”, docente no curso de Mestrado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa e faz parte da Comissão Científica e Comissão Organizadora das “Conversas de Fim de Tarde”, a que já aqui fizemos referência.
No entanto, foi como responsável da Unidade de Contratualização do Ministério da Saúde que apresentou a sua demissão ao Ministro da Saúde. (fonte: Saúde SA).
Cá p’ra nós, parece-nos que o Sr. Ministro começa a perder os anéis dos dedos. Esperemos que entretanto não arranje uma unha encravada.

Centros de Saúde e Hospitais – Recursos e Produção do SNS – 2006

Já está disponível, a partir de hoje, no sítio da Direcção-Geral da Saúde, o documento “Centros de Saúde e Hospitais – Recursos e Produção do SNS – 2006“.
Após um rápido “passar de olhos” pelo documento, dando enfoque às questões que mais interesse me despertam, pude constatar que em relação aos dados estatísticos da publicação anterior, referente ao ano de 2005, verifica-se um decréscimo de cerca de 5,5% no que diz respeito aos Técnicos de Saúde Ambiental (TSA) em exercício em Portugal Continental.
No que diz respeito aos Médicos de Saúde Pública (MSP), houve um aumento de 0,8%. O aumento verificado para este grupo profissional, visto isoladamente, não terá qualquer significado. No entanto, se comparado com os valores dos últimos anos, em que a tendência era a diminuição efectiva de técnicos deste grupo profissional, os irrisórios 0,8% apresentam-se como um valor muito interessante.

O aumento de MSP deve-se à Região de Saúde no Norte e à Região de Saúde do Alentejo, sendo que nas restantes, o número de profissionais diminuiu, com especial relevância para a Região de Saúde de Lisboa, que contribuiu com a saída de 12 médicos. A diminuição de 2 médicos na Região de Saúde do Algarve corresponde a um decréscimo de 11% daqueles profissionais naquela região.

Preocupante tende a ser a situação dos TSA, que em todas as regiões de saúde viram o seu número diminuir (na Região de Saúde do Algarve, a redução de 3 TSA corresponde a quase 16% do número total daqueles profissionais naquela região) e que no próximo ano não deverá ser melhor. Porque será?