Sobrepopulação mundial e as suas consequências ambientais

A sobrepopulação tem vindo a ser reconhecida como a principal causa da maioria dos problemas ambientais, na medida em que o excesso de consumo está a ameaçar a sustentabilidade do planeta.

Em 1950 o número de população mundial era cerca de 2,5 mil milhões de habitantes, passando a 6 mil milhões no ano 2000. Apesar deste enorme aumento, a taxa de crescimento da população tem vindo a diminuir nos últimos 20 anos. Esta diminuição ainda não é visível com uma certa clareza pois grande parte das pessoas nascidas nos últimos 70 a 50 anos ainda se encontram vivas. De acordo com a Organização das Nações Unidas, prevê-se que a população mundial continuará a aumentar, alcançando os 11 mil milhões de habitantes até ao final do século. Estes dados permitem perceber a dificuldade de resolver os problemas associados à sobrepopulação, nomeadamente em relação à exaustão e consequente escassez de recursos naturais.

Nos países em desenvolvimento, a taxa de mortalidade tem vindo a reduzir bastante após o fim da Segunda Guerra Mundial, devido à implementação e promoção de campanhas de saúde pública e de vacinação, tendo como resultado uma redução significativa de doenças.

Figura 1. Crescimento populacional ao longo dos anos (fonte: Our World in Data).

Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Saúde Ambiental do 1.º ano do curso de licenciatura em Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL-IPL), para o programa Jovens Repórteres para o Ambiente, pelos estudantes André Fernandes, Miguel Silva e Tiago Silva (ver publicação original).

Pandemias: há razões para entrar em pânico?

Covid-19 é o nome da doença que parou mundo, mas esta não é a primeira vez que a humanidade vivencia uma pandemia. Já foram testemunhados outros casos de uma doença que se propagou de forma rápida e prejudicou não só o Homem como o ambiente que o rodeia.

A palavra pandemia teve origem no grego pan, que significa “todos” e demos “as pessoas”, e é uma palavra normalmente usada para se referir a uma epidemia, ou seja, uma doença contagiosa, mas que acabou por se espalhar por vários países ou continentes.

Ao longo da história, a humanidade já presenciou diversas epidemias desde da Peste Negra, à Cólera, à Gripe Espanhola, ao HIV entre muitas outras e acabando no mais recente, o coronavírus. Todas elas, além de provocarem consequências debilitantes e às vezes fatais para aqueles que foram diretamente afetados, também podem provocar diversas consequências negativas ao nível socioeconómico e político. Qiu et al., no estudo “The Pandemic and its Impacts”, publicado em 2017 no jornal “Health, Culture and Society”, referem que em 2009, o impacto da gripe pandémica, o H1N1, não foi apenas relativo à mortalidade, mas também sobre os sistemas de saúde, a saúde animal, a agricultura, a educação, os transportes, o turismo e o setor financeiro. Outro exemplo, o SARS em 2003 e as pandemias de Ébola, em 2013 e 2015, respetivamente, perturbaram as economias e a ordem social na China e na África Ocidente, além dos doentes e mortos que causaram.

Figura 1. Intervenções de base comunitária. Legenda da figura: (#1) atrasar o pico do surto; (#2) descomprimir os picos de carga nos hospitais/infraestruturas; (#3) diminuir os casos globais e os impactos na saúde (adaptado de Markel H, Lipman HB, Navarro JA, et al. Nonpharmaceutical Interventions Implemented by US Cities During the 1918-1919 Influenza Pandemic. JAMA. 2007).

Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Saúde Ambiental do 1.º ano do curso de licenciatura em Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL-IPL), para o programa Jovens Repórteres para o Ambiente, pelos estudantes Eduardo Pereira, Raquel Fonseca, Shakila Oliveira e Tânia Nunes (ver publicação original).

Por detrás da máscara: COVID-19

As máscaras cirúrgicas e as luvas de latex que estão a ser utilizadas de modo massivo pela população como forma de prevenção durante a Pandemia da COVID-19, são de uso único, estando a ser eliminadas como resíduo urbano, podendo estes serem considerados resíduos de risco biológico inseridos no grupo III dos resíduos hospitalares.

O que são máscaras e luvas?

São equipamentos de proteção Individual (EPI), mas que simultaneamente podem ser considerados dispositivos médicos. De acordo com o Decreto-lei n.º 128/93 de 22 de abril de 1993 , artigo 1º – alínea a. (entretanto revogado pelo Decreto-Lei n.º 118/2019), EPI é “qualquer dispositivo ou meio que se destine a ser envergado ou manejado por uma pessoa para defesa de um ou mais riscos suscetíveis de ameaçar a sua saúde ou a sua segurança”.

Um trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Gestão de Resíduos do 2.º ano do curso de licenciatura em Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL-IPL), para o programa Jovens Repórteres para o Ambiente, pelas estudantes Fabiana Clérigo, João Anjos e Sandra Ferreira (ver publicação original).

Um mar de redes!

De acordo com a organização não-governamental Animal Protection, cerca de 100 mil baleias, golfinhos, focas, leões-marinhos e tartarugas morrem todos os anos devido às redes de pesca que são abandonadas no mar e que a Organização das Nações Unidas estima serem 640 mil toneladas anuais. Num relatório publicado pela Greenpeace no final de 2019, este valor representava mais de 85% dos resíduos plásticos encontrados no fundo do mar. Recorde-se que há 10 anos atrás, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura estimavam ser este valor de “apenas” 10%.

Um trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Gestão de Resíduos do 2.º ano do curso de licenciatura em Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL-IPL), para o programa Jovens Repórteres para o Ambiente, pelas estudantes Diana Narciso, Catarina Carvalho e Inês Andrade (ver publicação original).

A nossa sobrevivência só depende de nós!

O Homem tem promovido a destruição das florestas com o objetivo de explorar recursos naturais, ou para fazer uso das áreas livres na agropecuária, com consequências significativas para o planeta a para a humanidade. Em função das dinâmicas da economia mundial, a desflorestação tem vindo a aumentar, e com ela o aumento de gases poluentes na atmosfera, uma maior probabilidade de deslizamento de terras, assim como a destruição progressiva da flora e fauna, dentre outros.
Se não mudarmos o nosso comportamento, o mundo como o conhecemos pode deixar de existir e nós passaremos a ser a espécie em risco!

Esta é uma “video-campanha” de animação, produzida em período de pandemia COVID-19 e confinamento social, realizada no âmbito da unidade curricular de Saúde Ambiental do 1.º ano do curso de licenciatura em Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL-IPL), para o programa Jovens Repórteres para o Ambiente, pelos estudantes Jailsa Sanca, Leonardo Miranda, Márcia Pereira e Rodrigo Jorge, com a colaboração de Henrique Pocinho.

Aeroporto Humberto Delgado: a poluição que não se vê

Aeroporto Humberto Delgado: a poluição que não se vê” é um artigo das estudantes de 1.º ano do curso de licenciatura em Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL-IPL), Ana Carolina Barata, Joana Lobão, Mariana Rosa e Rita Prôa, realizado no âmbito da unidade curricular de Saúde Ambiental, para o Programa Jovens Repórteres para o Ambiente e que inclui uma entrevista a Francisco Ferreira, presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

O Aeroporto Humberto Delgado, na cidade de Lisboa, é o 18.º mais movimentado da Europa, com um fluxo médio de 38 aviões por hora, colocando a cidade no 2.º lugar de pior capital europeia no que diz respeito à exposição da população ao ruído do tráfego.
Lisboa Capital Verde Europeia de 2020 e a situação atual do Aeroporto Humberto Delgado é uma relação insustentável e incoerente.

Estima-se que mais de 57 mil residentes em Lisboa são afetados pelo ruído, um número que tem vindo a aumentar. Estes dados são da associação ambientalista ZERO que tem feito medições nas periferias do aeroporto, com o objetivo de alertar e sensibilizar os cidadãos e as autoridades para o ruído e o impacto na saúde da população, referindo que a lei do ruído é ignorada.

CS-TOP Airbus A330-202, Aeroporto de Lisboa (fotografia de P.J.V.Martins)

Os aeroportos, apesar de indispensáveis num mundo altamente globalizado, são focos de poluição sonora para toda a área circundante, não só pelo ruído dos aviões, mas pelo tráfego adjacente. Ao longo do tempo, este ruído constante pode causar problemas de saúde na população, nomeadamente distúrbios do sono, aumento do risco de doença cardiovascular, redução da capacidade de aprendizagem das crianças, entre outros. É importante que sejam feitas medições frequentes nessas áreas, de modo a avaliar os níveis e, consequentemente adotar medidas para diminuir os riscos.

Em Lisboa, a ANA é a entidade responsável por essas medições e pelo cumprimento dos valores medidos, dentro dos parâmetros da legislação, que estipula que o limite máximo de ruído durante o período diurno (Lden: 07h-23h) é de 65 dB(A), e de 55dB(A) no período noturno (Ln: 23h-07h) nas zonas mistas. Valores acima dos aconselhados pela OMS que recomenda que o ruído constante se mantenha abaixo dos 30 decibéis e os ruídos pontuais não excedam 40 decibéis durante a noite. Estando o aeroporto inserido num denso meio urbano,é de grande importância que se realizem medições transparentes, para o bem de toda a população. É o que a ZERO tem feito com frequência.

Foi realizado um estudo durante dois dias em 2019 na zona do Campo Grande, que revela que em vez dos 55 decibéis de ruído máximo legal durante o período noturno, foi registado um valor médio de 66,5 decibéis, “representado em escala logarítmica quatro vezes mais que o permitido legalmente”.

De modo a entender um pouco mais acerca desta temática, que representa um problema de saúde pública, colocámos algumas questões ao Presidente da associação ambientalista ZERO, Professor Francisco Ferreira:

JRA ESTeSL – O aumento do ruído durante a noite deve-se ao facto de haver aviões de modelos mais antigos (que possam fazer mais barulho), ou é mesmo devido ao grande número de aviões em voo no mesmo espaço?

Os aviões mais antigos que possam fazer mais barulho estão proibidos de circular nesse período, pelo que, tem mesmo a ver com a quantidade de voos. A lei limita um total de 26 movimentos diários, não excedendo os 91 semanais, porém há uma data de exceções que não entram para esta contagem, mas que na realidade existem e fazem diferença.

– As medições de ruído são feitas com que frequência? Os seus dados são apenas arquivados, ou são tidos em conta para aplicação de medidas de correção.

A ANA dispõe de sonómetros que fazem essas medições constantemente, no entanto, os seus resultados não são tornados públicos, pelo que não é possível tê-los em conta. A ZERO faz medições avulsas, com alguma frequência, e apresenta os seus resultados publicamente para que sejam tomadas medidas. A ANA apresenta de 5 em 5 anos um Plano de Ação que visa a adoção de medidas para diminuição dos níveis registados, contudo esses planos têm sido chumbados consecutivamente pela APA.

– Visto que efetivamente há um alto nível de ruído, existe algum tipo de medidas a ser estudadas para a diminuição desse ruído? Nomeadamente a redução do número de voos noturnos, por exemplo, e caso seja afirmativo, será viável essa redução tendo em conta o fluxo de passageiros que atualmente Portugal apresenta por ser um país com o turismo em alta?

A medida mais eficaz é sem dúvida a redução do número de voos, que é possível e que já se evidenciou quando o aeroporto esteva para obras e com zero voos durante a madrugada, é, portanto, possível ajustar os horários e a quantidade destes, pelo menos em meses com menos fluência turística. Com o fluxo de passageiros e mercadorias que Portugal regista, de facto torna-se complicado uma redução eficaz e viável, mas há outras medidas, tais como: a utilização de aviões maiores, que transportem mais pessoas; e a construção de aeroporto novo, numa zona em que não prejudique a população, e não o alargamento do atual, que só irá agravar o problema.

– Com a situação atual de fronteiras aéreas interditas devido à pandemia Covid-19, evidenciou-se uma redução significativa do número de aviões em circulação, o que diminuiu também os níveis de ruído. Qual é a percentagem desta redução a nível de número de voos?

Nos dias que correm, com Estado de Emergência Nacional decretado, o aeroporto regista uma quebra de pelo menos 95% nos voos de passageiros, uma situação que a ZERO pretende analisar, irá realizar nos próximos dias as medições de decibéis em período diurno e noturno, de modo a poder comparar esses níveis.

É de carácter urgente a redução dos níveis de ruído em toda a área afetada, enumeradas no Mapa Estratégico do Ruído (Municípios de Lisboa, Almada, Oeiras), pois é um problema de saúde pública que por não ter efeitos imediatos e visíveis, acaba por ser ignorado de forma negligente. A situação arrasta-se há vários anos, com a legislação a não ser cumprida por parte das entidades responsáveis.

Mapa Estratégico de Ruído, Aeroporto Humberto Delgado, 2016 (LN). Fonte: Plano de Ações de Gestão e Redução de Ruído. Aeroporto Humberto Delgado (Lisboa), 2018-2023.

É importante referir que na envolvência directa do aeroporto Humberto Delgado está inserido o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Hospital Júlio de Matos, igrejas como a dos Olivais e a de São João de Brito, complexos desportivos, escolas como a Padre António Vieira, universidades como a Lusófona de Humanidades e Tecnologias para além de toda a zona residencial do Campo Grande, Alvalade, Olivais, e ainda incluindo outras áreas envolventes. Doentes do foro psíquico, estudantes, moradores, crianças e trabalhadores sujeitos ao ruído constante, esta situação arrasta-se há tantos anos, que já nem têm perceção desse ruído. Isto evidencia que é um problema invisível, pouco percetível e que está profundamente enraizado, o que é completamente inaceitável para a saúde da população.

Esta situação requer uma avaliação mais séria por parte das entidades responsáveis e do próprio Governo, é urgente a sua resolução, e é preciso fazer uma escolha: por um lado, o turismo e a economia, por outro, o benefício da saúde pública, ou seja, manter os valores registados até aqui, ou apostar numa redução do número de voos e tentar atingir os níveis recomendados pela OMS. Existe, portanto, uma necessidade de escolha em que a saúde da população tem de ser uma prioridade, SEMPRE.