A Legionella é uma bactéria ubiquitária do ambiente hídrico natural e de solos húmidos (Pasculle, 1992), tendo sido já isolada em lagos, charcos, rios, fontes hidrotermais e solos ripícolas (Fliermans et al., 1981; Molmeret et al., 2005).
É cada vez mais frequente a identificação de casos e surtos de legioneloses e a Doença dos Legionários apresenta ainda uma letalidade elevada. Em Portugal a doença foi detetada pela primeira vez em 1979, pertence à lista das Doenças de Declaração Obrigatória (DDO) desde 1 de janeiro de 1999 e desde 2000 até final de 2010 foram notificados 658 casos, predominantemente associados a alojamentos em unidades hoteleiras (Benoliel et al., 2010).
O controlo e prevenção desta doença fazem-se pelo diagnóstico precoce em casos suspeitos e pelo tratamento da fonte de infeção provavelmente associada, isto é, limpeza, desinfeção e manutenção das instalações e equipamentos contaminados.
Os serviços de saúde [nomeadamente as autoridades de saúde e os técnicos de saúde ambiental] têm vindo a empenhar-se, desenvolvendo esforços no sentido de prevenir os casos de infeção humana por bactérias do género Legionella. Estas, como já foi referido, encontram-se presentes ubiquamente nos meios aquáticos existentes na natureza como sejam rios, lagoas, ribeiros e albufeiras, podem vir a proliferar em estruturas e sistemas que contenham água, construídos e instalados pelo homem, beneficiando de nichos ecológicos favoráveis à sua multiplicação, para a qual contribuem entre outros fatores a existência de nutrientes e as condições de temperatura e de pH da água (Guerrieri et al., 2005).
Nas três últimas décadas, as redes de distribuição de água tornaram-se mais complexas, as técnicas sanitárias e as condições higiénicas foram objeto de melhorias significativas, sendo que, ainda assim, as torres de arrefecimento dos sistemas de climatização, os condensadores e humidificadores, as estações termais, os jacúzis, as piscinas, as fontes decorativas e os sistemas de distribuição de água para consumo humano, incluindo as redes prediais, têm surgido como promotores do desenvolvimento de Legionella (Tobin et al., 1980; Arnow et al., 1982; Zurafleff et al., 1983; Mangione et al., 1985; Dennis, 1988; Fields et al., 2002). Protegida das condições atmosféricas hostis e favorecida pela temperatura ideal ao seu crescimento, a Legionella parece ter encontrado um nicho ecológico neste “novo” setor hídrico criado pelo Homem, onde se pode desenvolver e chegar a atingir concentrações elevadas, tornando-se assim propícia à promoção de legioneloses no ser humano. A Legionella pneumophila tem vindo a ser encontrada em sistemas de água quentes e frios, cuja colonização ocorre em água estagnada a temperaturas entre os 20° C e 45° C (Mansilha et al., 2007), conseguindo sobreviver a temperaturas até 60° C (Huang et al., 2010).
As legioneloses são adquiridas após a inalação de aerossóis contaminados com Legionella e tendem a ocorrer em qualquer grupo etário mas com especial incidência nos indivíduos do género masculino com idades compreendidas entre os 50 e os 60 anos (Pasculle, 1992), sendo que o risco de infeção em individuos imunodeprimidos tende a aumentar (Fraser et al., 1977; Joyce, et al., 1987).
As redes prediais de água nomeadamente as de água quente sanitária recirculante, além duma multiplicidade de situações que dê origem à formação de aerossóis, podem constituir localizações propiciadoras da proliferação e, ou, da disseminação do agente bacteriano referido (Serrano-Suárez et al., 2013). Este, alcança o nosso organismo através da inalação de microgotículas aerossóis contaminadas (Schoen & Ashbolt, 2011).
Referências bibliográficas:
- Arnow, P.M., Chou, T., Weil, D., Shapiro, E.N., Kretzschmar, C. (1982). Nosocomial Legionnaires’ disease caused by aerosolized tap water from respiratory devices. J Infect Dis. 146(4):460-7.
- Benoliel, M.J., Fernando, A.L., Diegues, P. (2010). Prevenção e Controlo de Legionella nos Sistemas de Água at IPQ. Caparica: Instituto Português da Qualidade
- Dennis, P.J. (1988). Isolation of Legionella from Environmental Specimens. In Harrison, T.G., Taylor, A.G. (Eds.). A Laboratory Manual for Legionella (pp. 31-44). Chichester, John Viley & Sons
- Fields, B.S., Benson, R.F., Besser, R.E. (2002). Legionella and Legionnaires’ disease: 25 years of investigation. Clinical Microbiology Reviews. 15(3):506-526.
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- Guerrieri, E., Bondi, M., Ciancio, C., Borella, P., Messi, P. (2005). Micro- and macromethod assays for the ecological study of Legionella pneumophila. FEMS Microbiol Lett. 252(1):113-9
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- Pasculle, A.W. (1992), “The Genus Legionella”. In Balows, A., Truper, G.A., Pworkin, M., Harder, W., Shleifer, K.H. (Eds.), The Prokariotes; a handbook on the Biology of Bacteria: ecophysiology, isolation, applications, Vol. 2 (pp. 3281-3303). Berlin, Springer-Verlag
- Schoen M.E., Ashbolt N.J. (2011). An in-premise model for Legionella exposure during showering events. Water Res. 45:5826–5836.
- Serrano-Suárez, A., Dellundé, J., Salvadó, H., Cervero-Aragó, S., Méndez, J., Canals, O., Blanco, S., Arcas, A., Araujo, R. (2013) Microbial and physicochemical parameters associated with Legionella contamination in hot water recirculation systems. Environmental Science and Pollution Research. 20(8):5534-5544.
- Tobin, J.O., Beare, J., Dunnill, M.S., Fisher-Hoch, S., French, M., Mitchell, R.G., Morris, P.J., Muers, M.F. (1980). Legionnaires’ disease in a transplant unit: isolation of the causative agent from shower baths. Lancet. 2(8186):118-21.
- Zuravleff, J.J., Yu, V.L., Shonnard, J.W., Davis, B.K., Rihs, J.D. (1983). Diagnosis of Legionnaires’ disease. An update of laboratory methods with new emphasis on isolation by culture. JAMA. 250(15):1981-5.
Sugestões de leitura:
EWGLI (2011). EWGLI Technical Guidelines for the Investigation, Control and Prevention of Travel Associated Legionnaire´s Disease. UK: European Working Group for Legionella Infections.